Entre Yin e Yang: A Influência da Qualidade Nutricional no Desenvolvimento do Cérebro

A nutrição é um dos fundamentos essenciais para o desenvolvimento humano, não apenas em sua dimensão física, mas também em sua expressão mental e espiritual. Mokiti Okada, propõe uma visão equilibrada da alimentação, reconhecendo que todos os alimentos — sejam vegetais ou carnes — possuem nutrientes indispensáveis à manutenção da vida. Segundo ele, “os nutrientes indispensáveis à manutenção da vida humana estão presentes em todos os alimentos” e, por isso, “não é bom pender para um lado nem para o outro” (OKADA, 1950). Em sua classificação, os vegetais são considerados alimentos de natureza negativa, enquanto as carnes — especialmente a de peixe — são positivas, devendo ser consumidos com moderação e sabedoria, conforme a necessidade do organismo e o momento vivido por cada pessoa. Essa abordagem valoriza a diversidade alimentar como expressão da própria inteligência da natureza, e propõe que o equilíbrio entre os polos Yin (vegetais) e Yang (carnes) é o caminho para uma saúde plena e integrada. 

Essa perspectiva encontra ressonância nos estudos científicos sobre nutrição e desenvolvimento cerebral. Pesquisas realizadas pelo Laboratório de Neurobiologia Nutricional (LAFINNT) em Recife demonstram que a nutrição precoce exerce influência decisiva sobre a estrutura e a funcionalidade do cérebro na vida adulta. Em especial, foi observado que a desnutrição nos primeiros estágios da vida facilita a propagação da depressão alastrante (DA), um fenômeno eletrofisiológico que indica alterações na excitabilidade cortical. Animais que sofreram desnutrição precoce apresentaram velocidades de propagação da DA significativamente mais altas do que os bem nutridos, sugerindo maior vulnerabilidade do tecido cerebral. 

A tentativa de reversão desses efeitos por meio da suplementação proteica revelou nuances importantes. Quando a dieta deficiente foi suplementada com proteína vegetal — de natureza Yin — os efeitos sobre a DA não foram revertidos. Somente a suplementação com caseína, uma proteína animal de alta qualidade — de natureza Yang — foi capaz de restaurar a normalidade eletrofisiológica do tecido cortical. Esses achados sugerem que, em determinados contextos, a força estruturante dos alimentos Yang é indispensável para a recuperação funcional do cérebro, especialmente quando há comprometimento precoce. 

Essa intersecção entre ciência e espiritualidade reforça a importância de uma abordagem integrada da nutrição. Enquanto a ciência revela os mecanismos bioquímicos e eletrofisiológicos que sustentam o desenvolvimento cerebral, Okada nos convida a considerar também os aspectos sutis da alimentação — aqueles que afetam a mente, a emoção e o espírito. A saúde plena, portanto, não se limita à ausência de doença, mas à harmonia entre corpo, mente e espírito, nutridos de forma equilibrada por alimentos que respeitam a dualidade Yin-Yang. 

Referência ABNT: SILVA, Maria de Fátima Freire de; LEITE, José Pinto. Nutrição e desenvolvimento cerebral: implicações para a saúde pública. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 56, n. 1, p. 38–41, jan./mar. 2004. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000100024&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 27 ago. 2025.